Meu Pai

Lembro-me do teu ultimo dia,

juntos, assistimos TV,

há tempos que a gente não via,

aquele desastre nem dava pra prever.

Falamos bastante de futebol,

até fizemos um grande bolão,

aquele seria seu ultimo sol,

partiria pra sempre meu coração.

Quando te olhei despreocupado,

me olhou tão diferente,

um olhar assim meio de lado,

nunca mais seria só um adolescente.

Aquela foi a ultima vez que te vi,

logo soube da tua morte,

eu quase enlouqueci,

foi minha maior falta de sorte.

Ah meu velho pai,

quanta coisa tinha pra te falar,

dessa vida, desse vem e vai,

faltou muito abraçar.

Queria mais do que nunca,

os conselhos tão maduros que me dava,

tuas mãos em minha nuca,

enquanto a noite acabava.

Lembro que pequenininho

de madrugada te chamava pra brincar,

o teu abraço era meu ninho,

o senhor sempre a me cuidar.

Aí meu pai que saudade desatina,

nem a mulher da minha vida pôde conhecer,

ela é uma mulher tão menina,

acho que dai dá pra ver.

Meu pai, que saudade que eu tenho docê,

ela vive a me cuidar,

o teu exemplo digno não hei de esquecer,

aos meus filhos vou ensinar.

Se um dia precisarmos de orientação,

e só um puder proteger,

cuide dela, me deixe na mão,

sei me virar sozinho como você.

Ah meu pai, escrever assim me faz chorar,

nunca vi caráter tão singular e nobre,

sempre disse e provou me amar,

se o senhor ensinou a ser ouro, eu ainda sou cobre.

Não tenho a experiência que teve,

nem me sentia poderoso como te via,

tive que sem água matar a sede,

e crescer da noite pro dia.

Ricardo Letchenbohmer
Enviado por Ricardo Letchenbohmer em 31/05/2015
Reeditado em 31/05/2015
Código do texto: T5260916
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.