SAUDADE DA MINHA INFÂNCIA

Hoje senti saudades.

Saí caminhando no meu passado,

Sobre os meus passos de criança,

No bairro onde amei e fui amado.

Comecei lá naquela última rua,

Onde a terra ainda hoje vermelha,

Fazia a diferença entre nós crianças traquinas,

Já que a roupa delas tinha a cor suja da telha.

Passei no nosso antigo campinho.

Hoje tem lá uma majestosa capela erguida.

Passei perto da casa do "seu" Cezário,

E da nossa casa onde aos sete anos iniciei a vida.

Foi um tempo duro onde tudo era revertido em construção.

Passsamos fome sim. Talvez não, comiamos o fruto da terra.

Folha de batata doce com angú e café com farinha de mandioca.

Tinha cana, chuchú, goiaba, abacate e mamão.

Das galinhas, não me esqueço.

Pois eram minhas amigas e até tinham nome.

A ranzinza, o carijó, a lia, a cocota,

Todas iam para a panela, afinal, era para matar a fome.

A minha mãe Carmélia, uma fada no fogão de lenha,

Embora a cozinha fosse de chão batido.

Punha seu toque mágico no tempero.

E fazia meu pai Euzébio deliciar-se envaidecido.

Algumas ruas mudaram de nome.

Nome de alguns adultos de minha infância.

As casas continuam as mesmas.

Porém os rostos envelhecidos.

Meu pai, um humilde guarda chaves,

Um grande herói da extinta Rede Ferroviária Federal.

Trabalhava lá, e construia ali nas horas de folga,

O alicerce do nosso sonho na cidade grande.

Vi meus antepassados morrerem lá.

Meu avô Hilarino, nascido no ventre livre,

A Dodô, o tio Anésio e outros que nem me lembro bem.

Mas todos partilharam conosco a casa e o mingau de fubá.

Sabe! Nós vendemos aquela casa. Nós os três filhos crescidos.

Lá havia do meu suor também.

Andei no mato, pisei no barro do adobe,

E toda noite nos reuníamos para a oração...amém

Agora não adianta chorar.

Poder eu posso... lamentar.

Meus olhos podem marear.

Mas ali agora, só posso passear, olhar, olhar, até chorar...

Pois bem. Hoje senti saudades.

E voltei caminhando no meu passado.

Eu não perdi os meus passos de criança.

Tudo continua lá, onde amei e fui amado.

ederbrasil
Enviado por ederbrasil em 11/06/2007
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