SOLIDÃO


Eu sou daquela rua de casas sem telhas,
Janelas banguelas, vidraças quebradas...
Fantasmas passeiam, se prendem nas teias
Que tecem memórias por entre as fachadas.

Eu vou de casa em casa sem ser acolhida,
Ando contra o vento, perdida de mim...
Eu sou daquela rua onde a vida se cala
À porta da sala de um dia infeliz.

Na poça, o luar em estranho matiz
Projeta suas sombras por sobre a calçada
Por onde eu caminho, na rua deserta...
Sem eira nem beira, mendiga, descalça!

Estrelas de absinto, ah, luzes amargas!
Prenúncio do fim que me aguarda na esquina...
Nem Deus nem demônios trataram-me as chagas,
Andar nessa rua é minha dor e sina...

Eu sou daquela rua, silenciosa e nua,
Coalhada de espectros de tez infeliz...
 Partem sem bagagem, a esperança não estua,
Eu sou daquela rua onde  ninguém me quis...





 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 09/03/2015
Reeditado em 10/10/2016
Código do texto: T5163909
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