O pescador de Corpo e Alma
Lembro-me daquela vez
em que fui pescar com ele
na bela Lagoa Redonda.
Numa manhã brilhante
com o barco entrando água
e nada de peixes para fisgar.
Seu olhar severo
sob aqueles óculos de padre
e seu jeito sereno, calado e cauteloso,
fez crescer em mim a confiança
para expor a ilusão da vida.
Tio!
A gente nasce, vive e morre
que coisa mais sem sentido.
Afinal, se não levamos nada,
para que odiar, amar, ganhar, perder...
Para que viver?
Ele solfejou um sorriso decepcionado
Olhou-me com ternura,
E confortando-me
disse com todo afeto
que um pai poderia dizer a um filho:
Todos nós temos um aparelhinho
pra fazer a gente esquecer-se da morte.
Não deixe este aparelhinho estragar
senão você morrerá antes da hora,
Ou viverá morrendo!
E ao dizer essas palavras
falou-me bem alto:
Oh! Fisguei um peixe!
E eu afoito perguntei: É grande, tio?
Ele respondeu com um sorriso chorado
É brincadeira!
Tio Zezico!
O grande pescador
Que por duas vezes
Trouxe-me de volta
a essa enfadonha vida,
Pescando-me!
Uma quando jovem e doente.
Outra quando adulto e descontente,
retirou-me de águas profundas
desse mar tenebroso
e desconhecido da vida!