O pescador de Corpo e Alma

Lembro-me daquela vez

em que fui pescar com ele

na bela Lagoa Redonda.

Numa manhã brilhante

com o barco entrando água

e nada de peixes para fisgar.

Seu olhar severo

sob aqueles óculos de padre

e seu jeito sereno, calado e cauteloso,

fez crescer em mim a confiança

para expor a ilusão da vida.

Tio!

A gente nasce, vive e morre

que coisa mais sem sentido.

Afinal, se não levamos nada,

para que odiar, amar, ganhar, perder...

Para que viver?

Ele solfejou um sorriso decepcionado

Olhou-me com ternura,

E confortando-me

disse com todo afeto

que um pai poderia dizer a um filho:

Todos nós temos um aparelhinho

pra fazer a gente esquecer-se da morte.

Não deixe este aparelhinho estragar

senão você morrerá antes da hora,

Ou viverá morrendo!

E ao dizer essas palavras

falou-me bem alto:

Oh! Fisguei um peixe!

E eu afoito perguntei: É grande, tio?

Ele respondeu com um sorriso chorado

É brincadeira!

Tio Zezico!

O grande pescador

Que por duas vezes

Trouxe-me de volta

a essa enfadonha vida,

Pescando-me!

Uma quando jovem e doente.

Outra quando adulto e descontente,

retirou-me de águas profundas

desse mar tenebroso

e desconhecido da vida!

Marco Antônio Pinto
Enviado por Marco Antônio Pinto em 19/01/2015
Código do texto: T5106661
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