LADAINHA DE MÃE E FILHA
Lembra do mar?
Lembra daquelas conversas jogadas fora?
E dos risos frouxos de manha cedinho?
E das certezas amputadas pelas partidas?
E das horas que demoraste a dizer que vinhas?
E do frio na espinha à espera do próximo vôo?
Lembro-me de tudo.
O mar de agora
Não tem beleza alguma
E os meus olhos se curvam
Às rugas do destino
Não sou devota de santos
Rezo por precisão, e nunca por mim
Rezo pelos meus rebentos...
Escrever é dom que não se escolhe, minha mãe dizia
Sofrer é merecimento que não se quer, eu entendia.
“Quem ama o homem demais, ama o Satanás”, ela repetia
E eu, de tudo o que ela me sugeria, ficava a indagar:
-E amar?
Ah, minha filha, Amar é sorte... e nada mais!