O ANEL DE SAFIRA
“Memórias do Capitão”
Andei na Frente Georgette,
Sob o comando de Pétain
Fiquei com triste lembrete
Da carreira de capitão.
Eu não era dessa Guerra
Tinha o coração na Lamela
Deixei projectos na terra,
E a minha casta donzela.
Trouxe comigo em lembrança
Num dedo que já não tenho
Uma safira de esperança
Que usei com muito empenho.
No anel sentia o beijo
Que a Mariana me dera
E no meu peito um desejo
Duma saudade sincera.
Aprisionado em combate
Na famigerada La Lyz
Fui liberto por resgate
E não morri por um triz.
Vim a mim de manhã cedo
Numa tenda alsaciana
Nesta mão faltava um dedo
E a safira da Mariana.
- Ai Boches, que ma levaste,
Dai-me cá a canhoneira
Seja eu o mais reles traste
Se não os meto na trincheira…
Para o campo de batalha
Voltei de novo a marchar
Já não havia a metralha,
Estava a luta a terminar.
Todo o terreno observei,
Onde estivera cercado,
E, por azar, logo encontrei
O meu dedo decepado.
Naquela hora tranquila
Com a alma em desalento
Achei por fim a mochila
E o recheio que tinha dentro.
- Oh, gloriosa aventura,
Tal prazer ninguém mo tira
Tudo muda de figura
Quando se tem esta safira…
- Quero lá saber do dedo,
Quem me salvou foi a gana,
Neste anel tenho um segredo
E um beijo da Mariana…
- Fim às guerras e tiranias,
Malvadezas e deboches,
Haja festas e alegrias
Que se lixem todos os Boches!
Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE