ETERNO ENTARDECER

Meus olhos baixos estão presos às minhas pernas.

Presos a um fato.

Presos a um longínquo fato.

Meus olhos baixos se prendem à lembrança.

Eu era pouco mais que uma criança.

Estou presa.

Irremediavelmente presa à recordação.

Quanto tempo! Quanto!

Os pássaros é que me fizeram baixar os olhos e encontrar este tempo antigo.

Eles revoam.

E eu aqui.

A voar pra tão distante.

No tempo.

Fui eu mesma que tudo aquilo vivi?

Fui eu?

O passado morreu.

Minhas pernas são tão bonitas agora.

Que dor eu sentia outrora.

Queria andar e não podia.

Eu chorava todo dia.

Aquele entardecer ficou guardado.

Lacrado.

Existem fatos que nunca vamos esquecer.

Eu valorizo cada instante do meu viver.

Valorizo minhas pernas, meus pés, valorizo a estrada que caminhei, que caminho.

Não sou um ser sozinho.

Trago comigo tantas lembranças.

Tantas... tantas... tantas...

Naquele tempo eu estive presa a um leito.

A uma cadeira de rodas.

Agora estou presa apenas a uma lembrança.

Ainda bem que naquele tempo eu não perdi a esperança.

Posso erguer os olhos agora.

Posso agradecer e agradeço.

Sei, meu Pai Eterno, eu agradeço.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 26/10/2014
Código do texto: T5012467
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