QUANDO EU ERA GENTE.
Ontem, após décadas,
fixei meu olhar no firmamento
num retângulo emoldurado
um fundo escuro de brilhante pontuado.
Três quartos imensos diante dos
Ínfimos gigantes cintilantes,
a perspectiva iludindo a retina
tornava imensa a Lua menina.
A vida entrou em regressão,
10, 20, 30, 40 anos numa fração
de segundo, me levaram de
volta ao tempo que eu era gente.
Da criança iludida pelos
quadrinhos lidos avidamente,
projetados infantilmente.
Ah! Quando eu era gente.
Percorria estrela por estrela,
queria viajar no espaço,
desejava ter super poderes,
nada me trazia cansaço.
Noites e noites sucessivas,
buscando sempre encontrar,
coisas, sonhos e fantasias,
de quando eu era gente.
Depois da fantasia,
veio pequeno conhecimento,
o mundo agora eu via,
em outro momento eu lia.
Do sonho à admiração,
da ilusão à curiosidade,
de onde tudo isso vem?
Pra onde irei eu também?
Perguntas, questões e
nenhuma resposta,
pequeno saber, pouca
sabedoria sobreposta.
Mais perguntas em profusão,
na mente ainda mais confusão,
mas o sonho ainda habitava
meu jovem coração.
O mundo que agora via,
se tornava desafiador
e isso gera euforia,
ao ser desbravador.
Do jovem ávido pelo
saber sobre o corpo e mente,
vivendo dúvidas cruéis,
mas ainda eu era gente.
Crer nas pessoas um fato,
consistente no ser vivente,
sofrendo percalços, tropeços,
superando cada momento.
De novo fito o firmamento,
como há muito tempo fazia,
agora distinto de antes,
inexiste então a euforia.
Dos sonhos jamais transformados,
em realidades então desejadas,
o corpo já mais surrado,
indo pro fim da jornada.
A alma de então alegria,
agora vive a nostalgia,
de quando eu era gente
e era feliz, mas não sabia.
Vila Velha, 9 e 10/01/2006