Eu Ainda Sou Criança (Celismando Sodré - Mandinho)
AINDA SOU CRIANÇA
Meu Deus !! eu ainda sou criança...
Nunca deixei de gostar de sorrir
Ainda sonho com o bicho papão
E tenho irrealizáveis fantasias
Imagino viagens no tempo
Acredito em tantas utopias.
Ainda sinto minha imaginação atiçada
Quando ouço uma boa fábula
Com curiosidade e emoção
Quando uma história de amor é contada
Sinto acelerar meu coração.
Ainda associo uma pipa solta
A liberdade do vento
Observo as flores pelo caminho
E sonho com gnomos e duendes
Gosto de ler revista em quadrinhos
Meu Deus !! eu ainda sou criança...
Apesar de minha barba por fazer
De alguns cabelos brancos
Que teimam em aparecer
Das rugas que marcam meu rosto
Ainda me encanto com o alvorecer.
Assisto a filmes infantis
Com minha filha ao lado
Chego a me emocionar
Acho o máximo rodar pião
E corro para ver o circo chegar.
Observo os fenômenos da natureza
Como se fossem pela primeira vez
Admiro minha tamanha ingenuidade
Impressiono-me com as formas das nuvens
E suas diversas variedades.
Meu Deus !! eu ainda sou criança...
Lembro-me de açudes, lagoas e pescarias
Arapucas, bolas de gude e figurinhas
Banhos de rios, pulos dos barrancos e do cais
Sonhos que se perderam no tempo
Brincadeiras que hoje não se veem mais
“Oh! Que saudades que tenho, da aurora da minha vida”
Sobre sua infância querida
Escreveu Gonçalves, o poeta romântico
Fazendo-me recordar
Meus verdes anos com seu cântico.
Os balões e as bandeirolas de São João
Ainda me provocam deslumbramento
Aprecio espetáculos pirotécnicos no ar
Olho para o cosmo, para estrelas encantado
Como só uma criança sabe olhar.
Meu Deus !! eu ainda sou criança...
Embarco em espaçonaves fantásticas
Em grandes viagens interplanetárias
Na minha imaginação juvenil
Sonho com o trenó do Papai Noel
A voar pelo imenso céu cor de anil.
Admiro as cores do arco-íris
Ainda gosto de colorir desenhos
Me enterneço com as brincadeiras de crianças
Acredito na luz do final do túnel
Corro atrás de borboletas e esperanças.
Ainda tenho muitas saudades
Das peladas de futebol nos campos de várzea
E das velhas brincadeiras de outrora
Eu ainda me delicio por demais
Vendo o arrebol e a aurora.
Meu Deus !! eu ainda sou criança...
Lembro-me de antigos colegas do primário
Recordo das minhas antigas professoras
E do primeiro e velho Grupo Escolar
Das histórias e dos contos de fadas
Dos livros, das ciências e do mar.
Ainda me flagro de vez em quando
A cantar antigas canções infantis
A agir com extrema imaturidade
Lembro com saudade da primeira vez que fui
Ao parque que tinha chegado a cidade.
Converso com seres de outro mundo
Tenho amigos imaginários
Ainda acho bonito ver a chuva escorrer
Aprecio o balanço das árvores na ventania
Tenho saudades do meu alvorecer.
Meu Deus !! eu ainda sou criança ...
Ainda choro sem saber o porquê
Sinto que não cresci o suficiente
As vezes faço chantagem emocional
Tem momentos que estou no mundo da lua
Nem sempre me comporto de forma racional.
Gosto de tirar frutas direto do pé
Como se fazia na meninice
E mordê-las sentindo o sabor
Crescer para mim sempre foi um fardo
Repleto de nostalgia e de muita dor.
Mesmo com minha memória já falhando
Ainda que meus olhos já não enxergam tão bem
Do sorriso que está amarelando
Das enfermidades que teimam em aparecer
Da morte que sinto está se aproximando
Meu Deus !! eu ainda sou criança...