Lamento de Áries
A guerra é o meu destino
A contenda é minha sombra
A discussão é meu idioma
A discórdia é minha casa
Por mais que eu fuja
Por mais que eu corra
Por mais que eu me esconda
O ódio sempre me encontra
Afastei-me de tudo e de todos
De meus inimigos
E principalmente
De meus amigos
Dos que odeio e dos que amo
Todos me são igualmente perigosos
Escondi-me numa caixa de Pandora
Eu e a praga de minha índole
Numa tentativa frustrada de ter paz
Mas o ódio
Ódio, inominável algoz
Amante e inimigo
Companheiro e nêmesis
O ódio é capaz de perfurar
O mais sólido diamante
Só pra me pegar
E mesmo isolado
Não consigo ter paz
Afastei-me de tudo e de todos
Mas o ódio os trás até mim
Aprendi a sofrer e não lutar
Aprendi a ser ofendido e me calar
E de todas as importantes lições
Aprendi a não deixar o ódio sair de mim
Mas ainda assim
Ainda assim ele me quer
Sou seu mais fiel servo
Seu mais valente general
E neste exato momento
Há uma batalha dentro de mim
E eu sei que vou perder
Só empunho as armas
Porque é isso o que ele quer de mim
Estas lâminas afiadas e cruéis
Manchadas com o sangue do desprezo
Da mentira e da discórdia
Estas armas que jurei nunca mais levantar
Hoje levanto contra o meu ódio
Só porque é exatamente isso que ele quer
E vou perder
Não por covardia
Não por amadorismo
Não por fraqueza
Mas porque estou cansado
Cansado desse ciclo de ódio
Deste furacão de mágoas que é a vida
Agora estou de joelhos no epicentro
Não há saída
Estou na calmaria do tornado
Mas este me ameaça em todas as direções
Ameaça me acertar com tudo o que eu fiz
E com o que me fizeram
Sobe-me uma ânsia análoga à ânsia
Ele parece ganhar vida dentro de mim
E o que eu mais desejo agora
É a coragem de rasgar meu ventre
E colocar tudo pra fora
Tripas, estômago, rins e ódio
Tudo pra fora
Estou cansado
De joelhos, fraquejo
Estou cansado e logo vou tombar