Um dia que durou quase eternamente

Hoje fui levar

Um ramalhete de flores

Selvagens

Multicoloridas prismáticas

Aromáticas

Cortadas com meu estilete

Pelo caminho

Algumas colhidas lá perto

Do cemitério com muito carinho

Para minha mãe

Deixei uns versos de coração

Sob o epitáfio meio oxidado

Algumas letras já enferrujadas

Pelo tempo

A opacidade da fotografia

Jaz desgastada

Molhada pela chuva

Pelos orvalhos das madrugadas

Não apagou o seu lindo

Sorriso

Doce como uma trufa

Do paraíso sem maldade

Seu nítido olhar

Ainda parecia capturar

A vida os pássaros as estrelas

A cintilar

Crianças o mar a velha cidade

Que tanto amava

Parecia muito feliz

Fiz uma oração

Balbuciei a canção que ela

Gostava

E deixei cair umas lágrimas

Na sua sepultura

Ela não pode me responder

Com sua doce ternura

Nem com sua rouca voz

Na sua lousa candura

Mas um bem-te-vi

Cantou num oiti florido

Bem logo ali

Ainda bem que te vi

Bem te vi

Sem nenhuma epifania

Parti na noite que caía

Num luar âmbar decrescente

Reluzente incandescente bucólico

Que saia

Abúlico telúrico melancólico

Com uma saudade queimando

Minhas entranhas vísceras

Coração que ardia

Repletos de reminiscências

Deste dia.

Luiz Alfredo - poeta

luiefmm
Enviado por luiefmm em 11/05/2014
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