Aquele poema
Aquele poema ficou
impregnado na alma depois
que passou pelos meus olhos.
Ficou assim,
feito uma belíssima tatuagem
incrustada na pele.
Aquele poema resistiu ao tempo,
dormindo, suavemente, entre as páginas
de um velho livro.
Mas estava lá, sempre à disposição
quando um amor novo
chegava ou quando um amor velho partia.
Sempre renovado em cada verso.
Sempre imortalizado em cada palavra.
Aquele poema acordou os pássaros
que moram em meu peito e os
fez voar, em revoada, mundo afora.
Também me deu umas asas,
não como as de Ícaro que derretiam
sob o calor do sol.
As asas que aquele poema me
deu eram de imaginação.
Estavam sempre dispostas a me levar
a algum lugar novo, desconhecido,
ou mesmo a revisitar velhos mundos.
Aquele poema, de quando em quando,
inundava meus olhos de lágrimas e
enchia o peito de uma
melancolia sem explicação.
Mas também trazia alegrias,
sabor de alguma felicidade recôndita,
que me visitava sempre com um
sorriso largo, uma flor na mão,
ou mesmo algum outro verso.
Aquele poema era,
Simplesmente, Manuel Bandeira.