A Grande Figueira
Bem ao longe, sobre um monte,
Sobre a linha do horizonte,
Pude ver, sobremaneira,
A imagem bela e majestosa
De uma linda e grande figueira.
Lembro bem, aos treze anos,
Pela janela do meu quarto,
Ficava eu, vivendo um sonho,
De um dia ir-lhe ao encontro,
E balançar-me nos seus galhos.
No período da queimada,
O fogo ardia com veemência.
E a figueira aquilo olhava.
Nada abalava sua imponência.
Ao raiar da primavera,
Brotavam flores ao seu redor.
Brancas, roxas, amarelas,
Um tapete multicor.
Pássaros que ali passavam,
Aninhavam-se em seus ramos.
Aos bichos que em terra andavam,
Sombreava os seus passos mansos.
Certa tarde de domingo
Aventurei-me pelas matas
Cruzei campos, charcos, valas
Venci medos e batalhas
Pra avistá-la inteira, sorrindo.
Quão feliz eu me senti
Ao tocar em seu velho tronco!
Subir no alto de sua copa
E ver de longe o meu recanto!
Figueira grande, imperiosa!
Confidente silenciosa,
Falei-te meus sentimentos,
Não com palavras, mas pensamentos,
Que foram entregues a ti
Ao doce soprar dos ventos!
Mas o firme punho do tempo
Bateu logo em minha porta.
Chamou-me para o porvir:
Vi minha inocência ir-se embora.
Foram anos que passaram.
Rumos novos deu-me o destino,
Onde os sonhos de menino
Com o tempo se dispersaram.
Mas foi por meio de uma sorte
Que ao velho quarto um dia tornei.
Senti no peito uma dor forte,
Quando à janela eu olhei.
Bem ao longe, sobre um monte,
Sobre a linha do horizonte,
Pude ver, sem cor, nem vida,
A triste imagem de uma relva,
Sem flores, sem minha figueira,
Completamente nua, seca, vazia.