POBRE SOFRÊ
Oh! Que saudade que tenho
Da aurora de minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
(Casimiro de Abreu)
Ah!
Que saudade de minha infância querida,
de minha casinha de taipa, escondida no mundo,
cravada no imo, do imo profundo, da caatinga esquecida...
distante de tudo!
Da gameleira verdinha, do imbuzeiro florido,
da aroeira imponente sobreando o quintal,
com seus galhos estendidos.
Sentando num galho,
como num braço cumprido,
eu, ainda menino, de braços abertos,
sentindo no rosto a brisa do vento,
imaginado voar, como pássaro encantado...
o vale florindo!
Mas em tempo de seca,
tudo é diferente,não há nada em volta que seja bonito,
a tristeza do povo, fica doendo no fundo profundo da alma da gente!
Lembrança sagaz, tormento algoz, de maus pensamentos,
do velho sertão, agonizando distante, por Deus esquecido.
No cimo do céu,
fornalha medonha! Quimera de fogo, com fome de gente,
resoluto enigma, sonho perdido, perdida esperança,
do pobre menino, mácula terrível, destino cruel..,
do povo oprimido!
Em volta da roça,
o açude sem água, a terra rachada, a caatinga morrendo!
No meio pasto, berro horrendo de bicho graúdo, de bicho pequeno,
como sangria de porco, porco sangrando, grito de morte
em dia festivo,
Lá no pé da serra,
em meio, a triste, tristeza silenciosa de Cristo,
o pobre Sofrê, na copa da árvore, em volta do ninho,
desatino cantado do último lamento, instante depois,
fúnebre silêncio, silêncio mortas..,
dos pequenos sedentos!
No alto do galho,
da aroeira imponente,
na palma da mão, do braço gigante estendido,
eu, ainda pequeno menino, num cantinho encolhido,
incontidos soluços, lágrimas dos olhos ainda caindo!
Cismado com tudo, cismado com Deus,
cismado com Cristo, rezando baixinho,
baixinho pedindo, bendita clemência..,
ao santo querido!