Na casinha de Taipa
Na casinha da taipa eu vivi,
E me lembro que fui feliz,
Na neblina matutina o branco cobria a serra bem ao longe,
Na floresta esverdeada, os animais davam-se pra se ouvir,
No canteiro de verdura a lagarta era minha vizinha,
No roçado de minha família as raposas passeavam,
No caminho longínquo as visitas eram raras,
E quando o Sol se apagava dormíamos cedo,
A cacimba tinha água fresca,
Os girinos nadavam para sobreviver,
E os passarinhos cantavam felizes libertos,
O mato o seu aroma é inconfundível limpava as narinas,
A vista descansava pensando simplicidades,
E a escuridão não causava medo,
Na casinha de taipa a lamparina tinha um cheiro agradável,
As estrelas mais brilhavam e o amor era simplório,
Quando todos iam dormir, os animais saiam donos de si,
O cavalo de meu pai era branco igual um conto,
E a comida era nutritiva sem enganação,
O sabiá era contemplado sem nenhuma malicia de coração,
O céu era colorido pela aurora,
O ar era liberto,
O verde cantava,
A grama gemia,
E tudo na vida era simples,
E tudo na vida era simples,
Eu pegava a nevoa com um jarro de vidro,
E acreditava que era Deus,
O medo da raposa louca me causava fascinação,
E o amor pelos seres vivos, era um respeito conseguido desde novo,
O piolho de cobra era o dragão da região,
E a parede com a aranha era de assombrar,
Na serra cantava-se uma vida de caipira,
E a Lua era de um brilho romântico,
Nos caminhos de folhas mortas, e secas, era um barulho sinfônico,
Na minha casinha da taipa o barro lembrava-me quem eu sou,
E o orgulho de ser pobre era uma beleza nobre,
Na casa de taipa o lembrar me causa um bem,
Que quem teve uma vida de criança sabe muito bem como é bom,
Porque, na casinha de taipa na floresta éramos protegidos pelo caipora,
Que todos os dias nos vinha visitar.
O vento balançava as folhas e dava um bom sono,
A luz do Sol era branda,
E os macacos de galho em galho comiam frutas maduras,
O beija flor era príncipe de família poética,
E as borboletas dançavam ao sabor do inverno,
O cogumelo era esquisito e eu gostava de tocar,
O silencio era longo e o falar somente coisas necessárias,
Os espíritos da região apareciam na noite de lua cheia,
E a chuva era harmonizada pelo sussurrar da Uiara,
E neblina como um poema era um orvalho puro,
Na casinha de taipa os anjos eram os falcões,
E os demônios eram os filhos de duendes dos roçados,
Na casinha de taipa, eu nunca vou me esquecer de quem sou hoje, é uma memória alegre e de tristeza,
É uma ironia de menino que teve calção pobre e grosso,
Que teve nos luares de um dia voltar para o céu, límpido, e de amor, na casinha de taipa sou o barro que sou,
Que forma em minha alma segredos num poema que alguém possa gostar, e canções que um poeta possa cantar.