O SERTÃO TAMBÉM RI

Miguezim de Princesa

Sertão não é só tristeza:

Tem poesia, tem baião,

Tem casamento matuto

E fogueira de São João.

E, quando chega a invernada,

O canto da passarada

Nos alegra o coração.

Sertão, torrão de poetas

Que rimam no improvisar:

Sem decorar uma linha,

Cantam as belezas do mar

- uma trovoada de rimas

Coroa essas obras-primas

De maneira singular.

Por mais que a seca abata

O Nordeste, o sertão,

Essa terra estorricada

Dá exemplos à Nação:

Basta ler Graciliano

- Vidas Secas, Fabiano –

E ouvir o Rei do Baião.

Sertão, terra de vaqueiros

De peitoral e gibão,

Do coco de embolada,

Das festas de apartação,

Do sanfoneiro arrojado

Tocando o fole furado,

Incendiando o salão.

Quando chega a tardinha,

Toca o sino na capela,

A matuta mais ousada

- não importa se feia ou bela –

Amassa com os seios duros,

Cheirosos, vistosos, puros

O peitoril da janela.

Quando o carão silencia,

O sertanejo sorri.

Depois de ouvir os soluços

No ninho da juriti,

Ouve o estridular que enfeita

A sinfonia mais perfeita

Do maestro bentivi.

Sertão, que me viu nascer,

Onde, menino, vivi,

No dia em que eu morrer,

Quero no teu chão dormir

E minha alma, sossegada,

Livremente carregada

Nas asas de um colibri.

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 11/03/2014
Reeditado em 11/03/2014
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