O SERTÃO TAMBÉM RI
Miguezim de Princesa
Sertão não é só tristeza:
Tem poesia, tem baião,
Tem casamento matuto
E fogueira de São João.
E, quando chega a invernada,
O canto da passarada
Nos alegra o coração.
Sertão, torrão de poetas
Que rimam no improvisar:
Sem decorar uma linha,
Cantam as belezas do mar
- uma trovoada de rimas
Coroa essas obras-primas
De maneira singular.
Por mais que a seca abata
O Nordeste, o sertão,
Essa terra estorricada
Dá exemplos à Nação:
Basta ler Graciliano
- Vidas Secas, Fabiano –
E ouvir o Rei do Baião.
Sertão, terra de vaqueiros
De peitoral e gibão,
Do coco de embolada,
Das festas de apartação,
Do sanfoneiro arrojado
Tocando o fole furado,
Incendiando o salão.
Quando chega a tardinha,
Toca o sino na capela,
A matuta mais ousada
- não importa se feia ou bela –
Amassa com os seios duros,
Cheirosos, vistosos, puros
O peitoril da janela.
Quando o carão silencia,
O sertanejo sorri.
Depois de ouvir os soluços
No ninho da juriti,
Ouve o estridular que enfeita
A sinfonia mais perfeita
Do maestro bentivi.
Sertão, que me viu nascer,
Onde, menino, vivi,
No dia em que eu morrer,
Quero no teu chão dormir
E minha alma, sossegada,
Livremente carregada
Nas asas de um colibri.