ESTAÇÕES
Quando era criança
tive uma única amiguinha,
a quem os pequenos aprendizes
menestréis
chamavam de feijão preto,
devido à sua natural
cor.
Um deles era o mais-mais,
o bam-bam-bam do tênis rainha,
o dono da bola das peladas
na pracinha
e dos corações, ainda exangues,
das gatinhas;
e era também o que mais pisava
a carvoeira menina
a ponto de ela chorar escondida
– destroçada já desde
pequenina –,
como a querer se lavar
daquela tênebra coloração
negrecida,
porque, apesar de tudo,
ela amava aquele carinha.
Certo dia,
conversávamos e brincávamos
em nosso habitual canto,
quando ela,
radiante e todas dentes,
me dizia:
“Ando tão feliz,
ele não mexe mais comigo,
será que agora posso
me aproximar dele?”
E ela nunca soube,
com aquele puro coração
que tinha,
que, escondidamente,
era porque eu quase tinha feito
o guri engolir suas bolas
e seu tênis rainha.
Péricles Alves de Oliveira