ESPERA NA CHUVA



era um poste que chovia
sobre o vidro do carro
ele fluía, fluía
continuamente
se diluía
vertia sua cor cinza
das luminárias
lá no alto
em cruz

e o cinza se diluía
eram torres que choviam
torres de alta tensão
e fluíam, fluíam
pelo vidro
continuamente
se diluíam

não eram torres
eram torrentes
que despencavam
das alturas

eram fios que choviam
em ondas muito pequenas
ondas que se interrompiam
mas fluíam, fluíam
se diluíam no ar
voltavam a se juntar
à dança das ondas soltas
que juntas se diluíam

eram ilusões que choviam
sobre o vidro do carro
ilusões fluídas
do concreto lá plantado
do concreto diluído
como a alma
olhando a chuva
dentro do carro