Contemplação 


Numa estante, num quadro está a minha mãe
Vestida de branco, cabelos em “cocó”, amarrados...
Em seu ventre eu estava; ela, com quarenta anos;
E eu com pressa de ver o mundo
Imundo ambiente onde eu provavelmente viveria
Na sombra de uma guerra mundial, fria.
 
Sempre fugi do mundo animal, do confuso carnaval...
Campo de cana, canavial espinhoso, sufrágio do mal
Enquanto Hitler cortava e matava no mundo ocidental
Fosso de morte onde ele se fazia animal; coração judeu
Que por ódio não aceitou irmãos; que judiou judias,
Pobres e plebeus; negros, brancos e fariseus, por anomalia.
 
Do sofá eu vejo tudo; vejo o quadro pintado à aquarela; à janela...
Vejo o tempo passar, e fico velho, e sinto o mofo no corpo,
Incorporando à minha pele escura; queimada de sol!
Lembro-me de olhar para a estante e notar minha mãe séria...
As fotos antigas, em preto e branco, eram sérias demais!
 
A vida passa depressa, às pressas, todos correm ao léu!
Ninguém quer olhar o céu; ninguém quer dar bom-dia...
Noutro dia, um carro fechou o meu; eu fiquei irado...
Pensei mais um bocado: onde está o meu Deus educado?!
Olho pro quadro e sinto saudades; mas saudade não tem idade...!
 
Ubirajara Sá
Enviado por Ubirajara Sá em 25/02/2014
Reeditado em 27/03/2014
Código do texto: T4705987
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