Profetas do entardecer *

Lá vêm os profetas iluminando a ladeira

fazendo sombra, com a luz dos lampiões

com baldes de óleo de baleia

vinham quietos no crepúsculo.

Com suas varas encharcadas,

dando forma à rua deserta

como que falenas, que, ao cair do sol

saiam às ruas,

para o despertar da boêmia;

homens sadios, salvos de hemoptise.

Homens madrugadores

levam em si

todo conhecimento noturno de uma cidade,

que entre uma esquina e um bueiro,

sempre tem uma história para contar.

Qual navalha a brilhar,

num tempo inocente,

onde conhecidos são os profetas

que calados ficam sempre

pois os iluminadores de vielas

de vidas alheias

falam nada aos transeuntes

por que a função de um profeta

não é profetizar a vida alheia

mas, iluminar as ruas por onde passam

indivíduos cheios de histórias para contar.

Com o barulho do bonde a se aproximar

tragado pela madrugada fria

à espera de uma usina a iluminar a cidade

trazida pelos ventos da modernidade

e com ela vir a aflição já profetizada.

*profetas eram chamados os homens que acendiam os lampiões no início do século XX em Porto Alegre RS.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 01/09/2005
Reeditado em 23/01/2011
Código do texto: T46688