Profetas do entardecer *
Lá vêm os profetas iluminando a ladeira
fazendo sombra, com a luz dos lampiões
com baldes de óleo de baleia
vinham quietos no crepúsculo.
Com suas varas encharcadas,
dando forma à rua deserta
como que falenas, que, ao cair do sol
saiam às ruas,
para o despertar da boêmia;
homens sadios, salvos de hemoptise.
Homens madrugadores
levam em si
todo conhecimento noturno de uma cidade,
que entre uma esquina e um bueiro,
sempre tem uma história para contar.
Qual navalha a brilhar,
num tempo inocente,
onde conhecidos são os profetas
que calados ficam sempre
pois os iluminadores de vielas
de vidas alheias
falam nada aos transeuntes
por que a função de um profeta
não é profetizar a vida alheia
mas, iluminar as ruas por onde passam
indivíduos cheios de histórias para contar.
Com o barulho do bonde a se aproximar
tragado pela madrugada fria
à espera de uma usina a iluminar a cidade
trazida pelos ventos da modernidade
e com ela vir a aflição já profetizada.
*profetas eram chamados os homens que acendiam os lampiões no início do século XX em Porto Alegre RS.