Poesia /saudade De: Quando eu era menina.......
Mensagem de Natal (Recordações)
Quando eu era menina…
De bibe branco bordado…
De laços no cabelo encaracolado….
Eu acreditava.
Que o Natal…
Era tempo de magia.
Era tempo gritante.
E colorido de alegria.
Quando eu era menina.
Tinha o sol preso no meu coração.
Tinha as estrelas lindas
e brilhantes mesmo á mão…
Tinha a voz do silêncio do momento.
E o tanger do sino.
Chamando ao encantamento…
Quando eu era menina….
Ah como eu gostava.
de ser ainda aquela menina …
de coração tão puro.
Desconhecendo o ódio e a maldade.
Ignorando a perversidade.
O mal querer da humanidade.
A discórdia o egoísmo
e a falta de verdade…
Acreditava que Jesus estava ali.
Mesmo ao pé de mim
Rindo alegremente.
Radiante de luz e amor.
Ali na casa grande.
Na África imensa da minha saudade.
E Ele pegava na minha mão.
Ensinava-me o que era amor.
Nem precisava falar.
Seus olhos eram a Verdade…
Ah como eu sinto saudades….
De voltar a vestir o bibe branco bordado.
E ter os cabelos aos cachinhos.
Presos com laços.
feitos pelas mãos da minha mãe.
Ter o sol por minha companhia.
Preso no meu coração.
E a aquecer as minhas mãos já sempre frias.
E a lembrar-me.
Do que não consigo ainda esquecer…
As orações que ainda sei dizer.
Receber a luz que das estrelas irradia.
E que animam o meu já tão fraco coração.
É que por vezes me esqueço
como acabou o dia e a noite começou…
A ouvir cantar os sinos.
Que em doce melodia.
Anunciam que há sempre sempre,
um novo dia.
E é hora de renovação….
Num breve instante fecho os olhos.
Dentro de mim renasce um coração.
Sedento e palpitante.
E que me faz sonhar.
Envolvo-me no manto quente.
E mágico da ilusão.
E assim.
Continuo a ter o Natal.
Da minha infância.
Nem que seja.
Só por um momento.
Abro o baú das minhas recordações.
Ele existe…é verdadeiro….
Meus olhos ainda têm
o mesmo brilho de outrora.
Ainda quedo pasmada…maravilhada.
Perante as coisas simples que enternecem.
Ali está ciosamente guardado meu Jesus
E tantas outras coisinhas,
Palhinhas e estrelinhas.
Fitinhas brilhantes reluzentes.
Florestas inteiras de verdura
Pauzinhos flores bonequinhos.
E bolinhas e muitas coisas miudinhas….
E as ternurazitas figuras do presépio.
Que saltam vivas aos meus olhos…
Um ano inteiro estiveram adormecidas.
Essas imagens minhas conhecidas
Algumas já coladas e lascadas,
mas nunca esquecidas.
E tão amadas…
Elas que fazem parte da minha vida.
.
Um burrinho pintado de castanho.
Para fingir que era a vaquinha.
É que havia dois burrinhos,
sem vaquinha.
Essa há muito já desaparecida.
Um pastor sem cabeça.
Mas com a sua ovelha agarradinha.
Os reis magos de seus mantos enfeitados.
E com prendas ao Jesus anunciado.
Não faltam anjos de trombetas.
E a cintilante e grande estrela ou cometa
que a boa nova anunciou.
Depois, refaço tudo…
Peça a peça…
Disponho tudo com grande carinho.
E sempre, com muito …. Muito jeitinho.
Minhas mãos já não são as de outrora.
Meus dedos já não têm a destreza…
Mas mantenho ainda a firmeza.
E sobretudo a minha enorme paixão.
Que é o pendão
Do meu grande encantamento.
Que me vem da liberdade e do amor
Que o deserto da vida nunca secou.
Músicas rasgam o meu silêncio.
Na distância do tempo.
Passado e reavivado.
O sonho a saudade o natal.
Espero a meia-noite.
Com o menino no meu regaço.
Aquele que já não tem um braço.
(Porque outro existe mais recente)
Perdeu-se nas viagens entre continentes.
Mas é o meu Jesus pequenino.
Aquele que a minha ama me comprou
Quando eu tinha poucos anos.
Fui eu que o escolhi. …
Lá naquela lojinha de presentes.
Agora? O sonho faz o resto.
Deponho o menino nas palhinhas
sob os olhos de sua mãe.
E...agora...
Apenas o fim da noite.
E o começo da madrugada.
Uma noite sempre estrelada….
Os cheiros invadem
os meus sentidos apurados.
Lembram os sabores e os odores…
Esses os mantenho na lembrança…
Preencheram a minha infância.
As doces rabanadas, os velhoses.
Da tradição da nossa família.
Tão bem confeccionados pela mãe.
O bacalhau, o peru…outras iguarias.
Em África o Natal era alegria.
Mesmo em terras distantes.
Longe da pátria natal.
Mantinham-se os velhos costumes…
Outros hábitos se iam agregando
Na miscigenação das culturas.
Agora …. Já nada é como era…
Vivem-se outros hábitos…
Perde-se a simplicidade…
Impera a vaidade…
Distorce-se a mensagem de Jesus…
Aquele que por nós morre na cruz.
Só o nosso coração preserva
As lembranças de outros tempos…
Agora….
Apenas o fim da noite
O começo da madrugada…
Uma lágrima escorre dos meus olhos cansados.
Afasto os meus cabelos já grisalhos.
De um rosto ainda com restos de brilho.
E vivo o momento da saudade.
Dos que já partiram.
Mas que vivos na lembrança.
Os tenho tão perto de mim….
Ah!
Como era noite…
Ninguém viu como eu chorava….
Como teimosamente uma lágrima.
Persistia em escorrer pela minha face.
Então… senti… que alguém mansamente me afagava….
Ah! Mas não era nada…nada…nada...seria da emoção....
Apenas uma doce vibração que aqueceu o meu coração.
De: T, ta
De: Pedacinhos de mim
Dezembro de 2006