Retalhos de um dia nos anos 50 em Macau.
O canto dos galos despertou a cidade.
O rio tremula estendido sobre os bancos de areia.
Os mangues se desenham na quietude das gamboas.
O panorama das salinas é um milagre da terra.
Os pescadores que pescaram no deserto
Da noite vem vindo.
Passam pelas embarcações paradas.
Barcaceiros se movem nos primeiros
Serviços de bordo.
Homens estendem na água
Redes curtas de pescar.
Esperam que o peixe venha
Engolir a isca que o anzol levou.
De vez em quando o assobio de um marítimo
Na quilha de uma barcaça.
Meninos passam conversando alto.
Homens atravessam para o cais.
Os carregadores de água transitam.
Os calões pesando nos ombros de homens
E meninos fazem o ritmo apressado da marcha.
Os barris rodam nas cordas.
Tilintam as latas pelas ruas.
Os animais carregam água
Para abastecer a cidade.
O sol começou a subir
Clareando e aquecendo.
A primeira agitação do trabalho,
Terminou a missa.
Os meninos das escolas passam.
Passam as boinas e os uniformes azuis.
A brancura das salinas impressiona.
As rodas grandes dos moinhos se movem.
O tanque público é uma grande colmeia.
A poeira começa a correr com o vento.
As orlas dos mangues estão pontilhadas
Das garças do Lagamar.
As gaivotas passam voando
Sobre a largura da barra.
Os braços longos do rio cortam a terra
Maravilhosa do sal.
O movimento das ruas já começou.
O mercado, ao centro, agita-se na procura das compras.
Nove horas. Onze horas. Meio dia.
Um sol vertical domina toda a cidade.
É a transição da sobra.
A ventania. A poeira. O calor.
Há como que um amortecimento em tudo.
Pouca gente nas ruas.
O dia vai correndo, correndo...
Mais tarde, o por do sol,
Maravilha de cores do infinito
Espalhando-se pelo horizonte.
A igreja está aberta para a benção de Deus.
Hora do passeio, das conversas, dos encontros,
Do bar, dos treinos de bicicletas e de futebol.
As moças sorriem nas janelas.
São graciosas, bonitas, joviais.
Algumas parecem que tem do Rio,
De São Paulo, De Minas, de Pernambuco.
Mas, o ocaso contínua manchando de vermelho
O lençol amarelento do rio.
Vai escurecer...
As primeiras sombras envolvem
As embarcações, as quilhas, os mastros,
Os mangues, os prédios, as ruas.
O imenso acampamento das salinas está quieto.
As gamboas desaparecem.
Vem vindo aos poucos o luar.
Enche a cidade de uma nostalgia deliciosa.
O cinema começa a lembrar dos romances de amor.
O cinema é bom e é mau...
Deixa alegria ou tristeza...
Hora de dormir ou velar.
Tudo fechado. Lá adiante, girando sempre
As suas faixas de luz, está o farol de Lagamar,
Sentinela de Macau, que se recolhe...