Memórias

Ruas que cheiravam a jasmim, saudosos mangueirais tão gentis.

Que saudade dos sítios, quintais e praças da bela infância que vivi.

Descer de tábua as ladeiras, de carrinho de rolimã as calçadas estreitas, colher lá no alto o fruto da pitombeira, voar na palha da palmeira, feliz. Que saudade das brincadeiras, da bela infância que vivi.

Travessa do Layme, lá tudo era para sempre. No aconchego dos seus quintais respirava-se democracia, erguia-se lindos sonhos de paz, de justiça. Salve Allende, Prestes, Guevara, Fidel, salve Gandi, abaixo o autoritarismo, a violência, gritávamos todos. Ainda ecoam por lá juras imortais.

E a praça do Carmo, lá o tempo pairava, cabelos rebeldes cheiravam a liberdade, o azul envelhecido do jeans abrigava sonhos de paz de jovens andarilhos, senhores de suas vontades, todos amantes da boa conversa, da boa música, da cachaça, do violão e do frio da madrugada.

Sua benção meu amigo cebola, boêmio inveterado, comunista por vocação. Por onde andarás, tu que deste a todos a luz da tua bela amizade, o abrigo seguro do teu coração, tu que repartias, com todos, em partes iguais, tudo de bom que a vida te dava.

Pronto, tenho dito, és um grande amigo.

Olinda, agosto de 1984

Marcos Cavalcanti

Cavalcanti
Enviado por Cavalcanti em 24/04/2007
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