EU ERA PRA SER
Quando criança, com meus sonhos.
Ideias que o destino que o destino desviou
Meus caminhos eram portas entreabertas
Obrigaram-me a ser o que hoje sou.
Eu queria ser um marinheiro
Mas o mar me rejeitou.
Eu era pra ser um padre
Mas o bispo me enganou.
Eu era pra ser piloto
O avião não decolou.
Ou talvez, ser professor.
Mas a escola fechou
Eu queria ser guerrilheiro,
No grupo de Che Guevara.
No Tupamaro ou Sendero
Mas ninguém me convocou
Eu era pra lutar boxe
No ringue ser campeão!
Ou pra jogar futebol
E brilhar na Seleção.
Eu era pra ser artista
De circo, malabarista.
No Gran Circo Robattini,
Mas a Valquíria me assustou...
Tanta coisa era pra ser
Não passei de amador,
No meu sonho de esportista.
Pois a vida não deixou.
Eu era pra ter uma casa
Uma família, tudo mais.
O carinho de uma mãe,
De uma esposa, e dos demais...
Eu era pra ser padeiro
Jornalista ou locutor.
Me tornar um cientista,
Um bombeiro ou um escritor.
Mas os deuses do destino,
me fizeram de poeta
e, pra não morrer de fome,
me tornaram um vendedor!
Vila Velha, 25 de Novembro.