Escravidão
Meus pensamentos estão soltos.
Revivem cinzas do passado
e angústias do futuro
que não ouso predizer...
Os minutos passam depressa,
a espera é enfadonha.
Já o meu corpo se aborrece
de ficar preso entre estas paredes
sem um sinal siquer de informação!
Quando poderei subir às elevadas paragens
para inebriar-me das doces cores
e sons harmoniosos das liras e dos cantares...
Dos Devas, dos Anjos e Arcanjos,
dos Querubins e todos os Gnomos e Delfins?
Ai,pássaro canoro de minha janela
que enfeitastes os meus dias
aqui no sertão bravio de minha terra natal!
Ai, como são belos os teus pios
as vozes das cotovias e do pássaro azulão!
Mata que não me matas, eu amo a tua sombra,
a tua cascata de flores e teus frutos em pendão!
Toquem os sinos nas capelas,
corram todos à senzala e
tirem o negro do tição!
Levantem as grades dos presídios
e soltem fogos de artifícios
na queima das noites frias
da festa de São João!
Hoje é o meu dia lindo!
Dia de estrelas no céu e
estrelinhas caindo no chão!
Meus companheiros de cela
acendam prá mim uma vela!
Iluminem esta escuridão!
Quero sentir o perfume
do incenso e do altar de Cristo!
Quero ver, mas, sem ser visto
no canto dessa capela
e olhar pela janela
prá ver a luz do dia
e deixar esta saudade
que cobre esta amizade
dos dias de escravidão!
Não deixarei que se passe
um século de nostalgias
de lembrar todos os dias
que estive na escravidão!
E para ser mais sincero
uma vez mais espero
que o meu povo se liberte
de uma vez desta tortura,
dessa falta de ternura,
deste pouco amor cristão!
Então me despeço amigos!
Nessa hora devo ir-me embora,
pois tenho que cumprir
meu trabalho, minha missão!
Sejam todos muitos amigos
e nunca se esqueçam
deste amigo que se vai
levando uma boa lembrança
da sua colaboração!
Adeus!
Um Amigo do Além