ROSA DE SAIGON
Apareceu de repente
naquele beco escuro,
cidade em chamas.
Fui arrastando meus pés
com meu cansaço e sujeira
e olor de sangue e morte.
Ela subiu pela escada escura
eu a segui com esquecidas culpas.
No miserável quarto,
iluminado pelas chamas,
lembrei de outra rosa,
longínqua e sofrida,
chorando minha morte
numa terra que nunca
conheceu a guerra.
Mas esta rosa,aqui e agora,
matava vontades
há tanto esquecidas,
seu olor de incenso e flor,
corpo pequeno e suave,
sua boca de criança na minha.
Eu a amei sem saber o nome
minhas botas meus botões fivelas
feriram-na
até esvaziar meu ser
dentro de seu corpo.
Ela derramou uma lágrima...
Ou eu imaginei?
De novo rua escura
De novo o medo, a morte.
Então vi a Rosa de Saigón
correndo em minha direção.
Vi minha flor cair na rua suja
Uma dúzia de rosas encarnadas
brotando no corpo.
Dezembro 25, 1975. Saigón.´
Páginas da Memória, livro inédito.