ROSA DE SAIGON

Apareceu de repente

naquele beco escuro,

cidade em chamas.

Fui arrastando meus pés

com meu cansaço e sujeira

e olor de sangue e morte.

Ela subiu pela escada escura

eu a segui com esquecidas culpas.

No miserável quarto,

iluminado pelas chamas,

lembrei de outra rosa,

longínqua e sofrida,

chorando minha morte

numa terra que nunca

conheceu a guerra.

Mas esta rosa,aqui e agora,

matava vontades

há tanto esquecidas,

seu olor de incenso e flor,

corpo pequeno e suave,

sua boca de criança na minha.

Eu a amei sem saber o nome

minhas botas meus botões fivelas

feriram-na

até esvaziar meu ser

dentro de seu corpo.

Ela derramou uma lágrima...

Ou eu imaginei?

De novo rua escura

De novo o medo, a morte.

Então vi a Rosa de Saigón

correndo em minha direção.

Vi minha flor cair na rua suja

Uma dúzia de rosas encarnadas

brotando no corpo.

Dezembro 25, 1975. Saigón.´

Páginas da Memória, livro inédito.

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 27/08/2005
Reeditado em 20/08/2009
Código do texto: T45555
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