O Hotel
:Um barco fundeado
no fim da enseada,
sob a calmaria da marémória...
Sua âncora?
A Ilha dos Amores...
O Farol – deixará de piscar
a luz-guia
de seu olho de Ciclope Vermelho?
Só se o coração da Ilha
também parar de pulsar...
E só ecos de reminiscências
restarão:
...
A infância (es)correndo
livre-solta
nas ondas “de pegar jacaré”,
sob o guardassol azul do céu,
erguendo-se espumantes
sobre o pardacento líquido
do Mar Dulce,
introjetadas nos risos
refletidos nas lagoas, e nos castelos
de areia das crianças-arquitetas
de um futuro-em-devaneio...
... as linhas-de-mão, com seus anzóis de arco-íris,
fisgando não só peixes e pitus,
mas todas as constelações
e nuvens deste céu líquido,
que testemunhava
os jogos de bate-bola
(e de bola-ao-copo!)
... os passeios e namoros em flor,
inspirados nos ajiruzeiros
de mãos dadas
na bege faixa arenosa...
...sobre-tudo, esta bela lua levitando
nesta abóbada celestial sem gravidade,
magnetizando os olhos
e o coração dos recém-casados,
que a fitam
pelas claraboias do Hotel, perplexos
como Ismália no dilema
entre a lua do Mar
e a lua do céu...
É aí que o vento resvala
na água e impele as ondas
a copular com as areias.
As rochas e árvores na Ilha ouvem sua voz
a acariciar nossa pele e sussurrar em nosso ouvido:
“Os que aqui vêm, vivem vidas centenárias!"...
...
Só o sonho visionário
explica claramente como
na escuridão das saudosas
noites da metade daquele século,
eu já estava por lá,
perdido e encontrado
pelo cheiro de mar na pele,
pela cor espalhada
captada pelo ouvido,
os olhos perdidos entre
os sabores
de luz
e as cores-sons -- doces--,
que os olhos hipnotizam,
abarrotados de ar
,água
e areia...