A RUA DA MINHA INFÂNCIA

ficavam enfileirados lampiões de cada margem

alumiando tudo como espiões de famílias que dormem;

assim consta em uma das lembranças de garotice;

literalmente não existia em minha infância,

mas um livro me contava mostrando gravuras de uma rua

onde lampiões tinham corpos de ferros trançados como rendas

e suas cabeças de luz ficavam sempre inclinadas

averiguando tudo o que se passava.

era uma rua ladeada de casinhas azuis

com janelas brancas e as cercas de ripas amarelas

faziam sentinelas pros jardins.

havia ar de sossego mesmo com os sons dos grilos

e os rangidos dos portões sem tramelas

- que o vento insistia em’ bulir’.

não lembro quem era o escritor do livro

mas o título do texto dizia assim;

“a rua da minha infância”.

e aquela rua acabou por se tornar também

‘a rua da minha infância’;

foi nela que comecei a dar os primeiros

passos de leitura por onde acelerava

pra compreender o que ela dizia;

acompanhava as letras naquele chão de papel

que de tanto folhear ficou amarelado

e com as beiras roídas;

enquanto caminhava, eu as lia.

Esta é uma das ruas de minha infância.

tem muitas outras, mas essas

são outras estórias.

MarySSantos
Enviado por MarySSantos em 22/10/2013
Código do texto: T4536868
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