A RUA DA MINHA INFÂNCIA
ficavam enfileirados lampiões de cada margem
alumiando tudo como espiões de famílias que dormem;
assim consta em uma das lembranças de garotice;
literalmente não existia em minha infância,
mas um livro me contava mostrando gravuras de uma rua
onde lampiões tinham corpos de ferros trançados como rendas
e suas cabeças de luz ficavam sempre inclinadas
averiguando tudo o que se passava.
era uma rua ladeada de casinhas azuis
com janelas brancas e as cercas de ripas amarelas
faziam sentinelas pros jardins.
havia ar de sossego mesmo com os sons dos grilos
e os rangidos dos portões sem tramelas
- que o vento insistia em’ bulir’.
não lembro quem era o escritor do livro
mas o título do texto dizia assim;
“a rua da minha infância”.
e aquela rua acabou por se tornar também
‘a rua da minha infância’;
foi nela que comecei a dar os primeiros
passos de leitura por onde acelerava
pra compreender o que ela dizia;
acompanhava as letras naquele chão de papel
que de tanto folhear ficou amarelado
e com as beiras roídas;
enquanto caminhava, eu as lia.
Esta é uma das ruas de minha infância.
tem muitas outras, mas essas
são outras estórias.