Casas trancadas
Tua vida, era devaneio demais para qualquer amante aceitar
Tuas aventuras foram tão desvirtuosas que não pude segurar
Teus abraços são sinais de cansaço, se rendes agora
Não posso esperar calado, chorando, estático
Quero gritar, te balançar, te acordar de uma pintura de Dalí,
Pois logo ali o perigo há de te pegar
Sempre boêmio é na calada da noite que te danas,
Que gritas, que ébrio reclama,
Pedes outras doses, de conhaque, de vodca,
De qualquer coisa que lhe tire a pouca medida da vida,
Que em doses curtas fosse tragando
Da vida porca, da vida torta em que cruzasses em vida qualquer
Porque resolves se esgueirar em ruas sem saída,
Olhar por entre becos não enxergar mais a vida,
Na cova que cavastes com teus pés,
Faltou a luz, deixasse a pá de fora, e agora?
Acendes mais um cigarro, o mesmo vício de outrora, mas que vício banal!
Em cada cigarro uma fumaça,
Em cada tragada um passo se dava em direção ao precipício sem fim
Porque pretendes adiantar algo tão divino,
Se queres entregar que vá sozinho,
Não leves ao caixão aqueles que pelas tuas mãos nasceram,
Cresceram e amaram, o pai, o avô, o irmão, o varão
Tua fortaleza de marfim está trincada,
Teus alicerces já vacilavam,
Por conta daqueles que, com inveja,
Atiraram pedras em teus tetos de vidro
Mas deixe que atirem pedras,
Juntos tiraremos todas do lugar,
Formaremos nosso castelo ao luar
A esse agarro com afinco, entregando todos os meus pontos
Para não sofrer do mal de amor
Decidi proteger o coração,
Construí vigas de concreto contra a dor, revesti toda a ilusão
Portas, janelas, porão e sótão tudo impermeável à emoção
Porém, sou humano, falhei,
Esqueci do mínimo detalhe, que deixou tudo acabado
Aquele antigo boêmio em paz e adormecido,
Me acordava, de repente, com um ruído
Era um sentimento bizarro entrando pelo teto
Se arrependimento matasse, ele já estaria morto de novo,
Morreu só, definhando e como um qualquer
Teve como epitáfio: “Morre Carlos, o amigo de todos”
Gabriel Amorim 08/09/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/