minha infância
fui criança destemida
sempre de bem c'o a vida
brincava c'o a chuva, c'o sol
c' o saci, c'o gato c'o anzol
nas noites sem lua, de breu
brincava c'os vaga-lumes
estrelinhas que iluminavam
apagavam o medo meu
lânguida, livre adormecia
depois do doce de leite
terço em família e a mãe de Deus
e dos acordes doces de meu pai
com suas lindas histórias
ainda trago na memória
as da onça e do compadre macaco
Joãzinho e Maria, perdidos no mato
e tantas outras mais
Nos dias de temporal
a mãe sempre me protegia
com seu cobertor d'afeto e magia
benzimentos e uma Ave-Maria
fazia tudo tudo acalmar .
Criada sob as saias do cafezais
meu café da manhã era no pomar
bebendo leite quente no curral
sem xícara, sem copo, sem taça
direto das tetas cheias da vaca
às sete subíamos cheios pra roça
limpava tronco, ajudava meu pai
e, na hora do "coffe-break"
sem "cup-cake", nem nada
broa de fubá pão de casa
feliz eu ainda brincava
nanava as bonecas de milho
ao som do assovio do vento
das lindas cantigas de meus pais
subia nos pés de manga, de ameixa
sem ter tempo pra qualquer queixa
sem ter tempo de pensar no mal.
Benvinda Palma