Nome de flor
Ela era negra e magra.
Tinha as canelas finas,
os lábios carnudos,
os olhos arregalados.
Falava depressa,
puxando as palavras,
de uma só vez,
como se arrancasse pragas
da plantação.
Parecia temer o efeito
que elas causavam.
Eram sons ranhentos
como cabaças trincadas,
roçando entre si.
De vez em quando,
por lá aparecia.
Entrava pela casa,
os cabelos repuxados,
um jeito esquisito.
Tinha um trejeito
de balançar a cabeça ,
como se concordasse
com tudo da vida.
Queria ajudar.
Falava com mamãe:
— Quedê a cuié
pra quebá a cuaida,
pra mode fazê o quejo?
Mamãe falava:
— Ainda não é hora,
a coalhada está mole.
E ela perguntava:
— Quedê a bassoura,
pra mode barrê o chão?
Enfim se assentava,
no banquinho da cozinha.
Se benzia várias vezes.
O prato no colo.
Comia com as mãos,
ajuntando os montinhos,
apertando entre os dedos.
Os olhos baixos
num silêncio absoluto.
Enquanto mastigava,
com os poucos dentes,
os lábios se ajuntavam
como se fossem assoprar
as velas do tempo,
que perdidas estavam
de tantas que eram.
Parecia às vezes,
uma personagem qualquer,
de um livro da estante.
Mas ela era gente e tinha nome.
E nome de flor.