Por Ti Mulher
Por ti mulher, querida.
Porque um dia me amaste e dêsde então,
Sou êste homem, êste traje e sua palavra,
Sou êste levantar-se nas manhãs,
A tomar posição de ontem, de hoje dia,
da camisa igual, das notícias.
Por ti mulher, levo êste modo de ser triste,
E padesço na alma o campanario,
de uma profunda catedral de pranto.
Amo por ti as tardes, as estátuas,
Os caminhos sem flôres e seus muros,
As casas pobres com cheiro a sábado.
Por ti mulher, sou como eu não te queria,
Ferido sem razão, e para sempre,
Ferido pelas ruas, as semanas,
Pelas coisas sem mone, por mim mesmo,
Derrotado de amor e derrotado
De perguntas em vão e em desordem,
Por tuas leves tranças, por teu peito
Onde um alegre e doce canarinho,
Insistente e azul com um suspiro
Cantava sôbre a blusa inutilmente.
Por ti mulher, levo um amuleto inexplicável,
Que me faz amar, todos os inválidos.
Por tuas carinhosas cartas que transitam
Vencidas no fundo do armário.
Pelo retrato sem idade que levo,
Amassado de tanto andar no bolso
E amassado pelo tempo e pela recordação.
2007/04/12