RELÓGIO DE FAMÍLIA
RELÓGIO DE FAMÍLIA
As coisas que trazemos de pai pra filho,
Nem sempre contam o que testemunharam.
Tenho um relógio “capelinha” estava parado.
Mandei conserta-lo e funciona perfeitamente.
Quando ouça o seu badalar das horas,
Ou um simples tocar das meias,
Venho a imaginar o quanto despertou
Meus avós, tios, criadas, e vizinhos.
Seu som insignificante dizia a hora,
Da chegada do vovô do Banco.
Da tia Maria Eliza para a escola,
Pois seus alunos a esperavam.
Das visitas que fazíamos à vovó!
Comendo roscas assadas a lenha,
Retiradas depois do aviso do relógio.
Comer quente da dor de barriga dizia a vovó.
Mas de todas essas informalidades,
Duas eram muito solenes, me lembro bem.
A do meio-dia e a das seis, hora da Ave-Maria!
Vamos todos rezar o Ângelus, com o Papa.
Era a Igreja toda unida, os Conventos,
As Igrejas a repicarem seus Sinos,
Anunciando a chegada da Ave-Maria.
E a rádio Gazeta tocava a sirene.
Quanta recordação nos traz essas badaladas!
Valeu o preço do conserto, e a dificuldade,
No ajuste do seu prumo na parede,
Do prego achado no muro em que ficou.
Agora entendo quando ouço dizer é meio-dia.
È meia-noite, vamos nos alimentar, quer seja,
Fisicamente ou mentalmente o nosso sustento.
Está na hora das horas marcadas, badaladas!
Chico Luz