Meu amigo de quatro cordas
Que saudade sinto dos tempos
Que nós éramos apenas eu,
Meu velho e obscuro amigo,
Em cujo corpo cabia o céu
E a profundeza: feroz abrigo,
Onde nunca havia dias limpos.
Que saudade de sentir meus dedos
Deslizarem pelo teu dorso,
Levemente, ou com fúria insana,
Livre de qualquer remorso,
Fosse numa profunda bachiana,
Fosse um simples fugir dos medos.
Que saudade de ferir-lhe o segredo
E de ouvir os teus gritos de loucura,
Os suspiros de um maldito amor,
Os sussurros de uma dor sem cura...
E das lágrimas em pó de alva cor
Que cobriam lhe o corpo em quedo.
Que somos hoje, então?
Dois! Não me és mais...
E eu não mais te sou...
É que os tempos que são de trás,
Com uma voz que em meus ouvidos soou
Me fizeram chorar, tendo-te à mão.