Compêndio de Minha Infância
AH! Que saudade me dá, saudade que dói no peito.
Do tempo da minha infância. Voltar no tempo... que jeito?
Do sitio lá da madrinha. Da gente que ia e que vinha.
A casa, o paiol e o terreiro.
Envolto ao verde e vales. Emoldurado pelo ribeirão.
A mata ao fundo azulada, capim-gordura e mourão.
Beleza por todos os lados. Ainda eu vejo este quadro.
Retrato da criação.
O tempo passava ao brincar: no pasto, no pé de figueira.
Na terra, a nascente a brotar, correndo pra cachoeira.
No tempo do faz de conta, tão cedo, o sol já desponta.
Pensar... só em brincadeira!
Ainda me atiça o sentido, o cheiro do fino tempero.
Laranja em flor no pomar, a lama lá no chiqueiro.
Café torrando na brasa. Fogão de lenha, fumaça!
Arruda e o alecrim no canteiro.
Nas noites enluaradas, quimeras me vêm na lembrança.
A estrela cadente a riscar, o céu, a reza e a dança.
O medo do escuro... sozinho! Um vulto lá no caminho?
Imaginação de criança!
Não sei na verdade o que sinto. Tristeza ou mesmo alegria!
Só sei que invadir o passado, a saudade por vezes judia.
Voltar no tempo... que jeito? Me dá uma dor no peito.
Poema? ou melancolia?
Compêndio da minha infância. História de minha autoria.
Não posso deixar que a tristeza, cancere a minha poesia.
E em meio a tanta proeza, evoco comigo a certeza.
De que era feliz... e não sabia!