APLAUSOS
APLAUSOS
Aquele grande piano
Numa horizontal deitado,
Como um animal alado,
Escondido atrás do pano,
Sob a tampa trás guardado
Todo seu branco teclado.
Por detrás dos bastidores
Faço meu último ensaio,
Nervosa, mas não desmaio.
Sob a luz dos refletores
Em concentração eu caio,
A meus dedos eu não traio.
Sinto um leve frenesi
Que agita meu coração,
Procuro encher meu pulmão.
Acho que tudo esqueci!...
Faço uma respiração,
E depois uma oração.
Há murmúrios na platéia
E toque de campainha.
Parece que estou sozinha...
Faz silêncio na alcatéia,
Cabeça tal ventoinha
Ao correr a cortininha.
Eu, antes de entrar no palco,
Massageio cada mão,
Fazendo respiração,
Passando nas mãos o talco.
Meus passos ouço no chão,
Inicio uma audição...
Logo ao primeiro contato
De meus dedos com o teclado,
Sinto cada um gelado.
E ao constatar esse fato,
Ao meu Anjo, em surdo, brado:
- Que não me tenhas zombado!!!
A reposta vem do Céu.
Após o primeiro acorde,
Aflição já não me morde.
Depois de tanto "escarcéu",
A inteligência explode,
E o sucesso foi recorde!!!...
Era sempre assim: Nervos na Hora H.