O RIO NO MEU CANTO
TODOS CANTAM O SEU RIO.
TAMBÉM VOU CANTAR O MEU.
LEMBRO, AQUI, NUM ARREPIO,
DO TANTO QUE SE ESQUECEU.
DA VELHA PRAÇA MAUÁ,
DO ZICA, BARÃO DO CAIS,
QUE OTEMPO LEVOU PRA TRÁS,
SAUDADE! NÃO VOLTA MAIS!
NAVEGANTES, VELHO CAIS,
MARINHEIROS PELO PORTO,
DEIXAM MARES, ONDAS QUAIS,
À MULHER PEDEM CONFORTO.
NO BAR DO AMARELINHO,
COM TODO SEU BURBURNHO.
CANTORES, COMPOSITORES,
MIL MUSAS, MIL AMORES.
OS RAPAZES DELICADOS
ALEGRANDO A CINELÂNDIA,
SUMIRAM COM SEUS PECADOS
DANDO AZO À CRACOLÂNDIA.
DAS FESTAS NA GAFIEIRA,
NA DANÇA DA NOITE INTEIRA,
O HIGH-LIFE DANDO INVEJA
AOS BAILES DO BOLA-PRETA.
MEU BOM CARNAVAL DE RUA,
DAQUELES BLOCOS DE SUJO.
FESTA NOSSA, MINHA E SUA,
ÍNDIO, PIERRÔ, MARUJO.
O HOMEM DO REALEJO,
A SORTE NO PERIQUITO.
O VENDEIRO COM SEU QUEIJO,
CUTELEIRO COM APITO.
NINGUÉM NUNCA A MALDIZER
OLHA LÁ POR ONDE COMES!
À NOITE, VÃO BENDIZER
O MAROTO ANGU DO GOMES.
OS VELHINHOS DA COLOMBO,
QUERENDO FESTA DE ARROMBA,
POSAM DE CONQUISTADOR,
PELA RUA DO OUVIDOR.
DOS BONDES, DO CONDUTOR,
MOTORNEIRO E INSPETOR.
TAIOBA PRAS LAVADEIRAS,
REBOQUE NÃO VAI DOUTOR.
VEJA, ILUSTRE PASSAGEIRO,
O VELHO TIPO FACEIRO
QUE O SENHOR TEM AO SEU LADO
E, NO ENTANTO, ACREDITE,
QUASE MORREU DE BRONQUITE!
SALVOU-O O "RHUM CREOSOTADO"
GENTE, GENTE, MUITA GENTE
CORTA O CAMPO DE SANTANA
PARAM BONDES LÁ PRA FRENTE,
TABULEIRO DA BAIANA!
E NO TREM, TODO APINHADO,
NA MULHER PASSAM A MÃO.
PAQUERA, O MAIS COMPORTADO,
A DAMA DO LOTAÇÃO.
MIL BIQUINIS ATREVIDOS
DELINEIAM, DEIXAM VER...
PELAS PRAIAS, SÃO BEM-VINDOS,
ALENTANDO O BOM VIVER.
PELAS RUAS, NUM POSTAL,
LÁ NA GRANDE AVENIDA,
BUSCA A GARE DA CENTRAL,
TUA GENTE, TUA VIDA!
LÁ DO ALTO, TUDO VENDO,
NUM ABRAÇO ACOLHEDOR,
VELA O RIO, COM AMOR,
NOSSO CRISTO, O REDENTOR