O SANTO
Parecia um saco de ossos,
com suas roupas miseráveis;
enxergava mais longe
dentro do coração.
Seus olhos penetrantes,
como duas brasas,
queimaram minhas entranhas,
arrancaram meus segredos,
revelaram meus pecados.
E eu caí de joelhos,
com barulho de aço e couro,
com minhas lágrimas de culpa
lavando meu rosto sujo.
E aos seus pés santos;
cheios de sofrimento,
meu ser derramou-se
em forma de lágrima e pó
suor e cordite,
culpa e arrependimento.
Sua voz chamou
com ordem imperiosa,
meus mortos,
meus fantasmas.
Eu fui torturado
meu coração retalhado
sem poder evitar,
pela mente possante
daquele homem magro,
faminto e fraco,
que em macabra orgia,
desfilando fazia,
os mortos reviver.
Quando meus olhos abriram,
o sol estava nascendo,
na dura pedra estava atirado,
o carnaval macabro terminado.
O Santo havia desaparecido.
Katmandu,Agosto, 1977.
Páginas da Memória - Livro Inêdito.