O SANTO

Parecia um saco de ossos,

com suas roupas miseráveis;

enxergava mais longe

dentro do coração.

Seus olhos penetrantes,

como duas brasas,

queimaram minhas entranhas,

arrancaram meus segredos,

revelaram meus pecados.

E eu caí de joelhos,

com barulho de aço e couro,

com minhas lágrimas de culpa

lavando meu rosto sujo.

E aos seus pés santos;

cheios de sofrimento,

meu ser derramou-se

em forma de lágrima e pó

suor e cordite,

culpa e arrependimento.

Sua voz chamou

com ordem imperiosa,

meus mortos,

meus fantasmas.

Eu fui torturado

meu coração retalhado

sem poder evitar,

pela mente possante

daquele homem magro,

faminto e fraco,

que em macabra orgia,

desfilando fazia,

os mortos reviver.

Quando meus olhos abriram,

o sol estava nascendo,

na dura pedra estava atirado,

o carnaval macabro terminado.

O Santo havia desaparecido.

Katmandu,Agosto, 1977.

Páginas da Memória - Livro Inêdito.

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 19/08/2005
Reeditado em 20/08/2009
Código do texto: T43636
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