Cabo de Cereja
Apontam o dedo, torcem a boca, torcem pra dar certo, fazem um cochicho do que queria ser grito... E aprendemos que lutar com palavras sempre foi mais fácil. Nós julgamos que sempre ao olhar nos olhos, vibra a verdade. Nós quebramos fácil porque sempre das ondas nos chegam as palavras e a verdade em forma de gritos.
(Ah como é difícil preparar isso. Não se suporta, é detestável, vai demorar quanto? Mais farinha, e farinha e esse tal de fogo já esta quente?)
Sabe aquela forma que você queria, aquele sonho que você queria? Nem sabe não... Porque guardaram na caixa, o lençol cobriu, a meia noite raiou e só as Cinderelas ficaram. O nosso mal, além de gritos e verdade é perecer antes do prazo, guardar os brinquedos antes do melhor amigo chegar.
(Todos os ingredientes: ok. Panelas, forno, espátula: ok. Calda quase pronta: ok. Em que parte da receita eu estava mesmo? OK!)
Não quero mais, deu, pronto, pode ir embora. A menina sem vestes, a coleção de conchas, a cortina abstrata, o talher sem fio. Tudo faz imenso sentido agora que sei para que usar meus sentidos.
(Quanto tempo lá dentro? E essas coisas por cima, são assim mesmo? Eu nunca fiz, aliás: não vejo a mínima graça em fazer isso).
Nós complicamos demais. O machucado ganhou curativo, recebeu da dor a lição, da matéria o aperto, do toque o aconchego, porque nós complicamos demais quando um simples acreditar pode ser carinho.
Meu gordo pedaço de torta agora é felicidade. Descobre-se ao morder da fruta, desmanchar a massa, lamber os dedos de nata, e que o passado está só na sua cabeça. Ninguém pegava as cerejas, ninguém as animava a dizer que é boa,e hoje ou ontem, todos acham que é só pra admirar.
(É assim que fica, que lindo? Mas ainda não sei se ficou bom. Tem que decorar, preciso de paciência e coordenação pra isso. Só quero ver se ninguém gostar, preciso mesmo fazer isso?)
Ela chorou, lamentou , o último pedaço da torta é sempre o pior. Resquícios de Alemanha no meu esôfago, uma composição plágio de milagre a me atordoar o sabor da alma, ela chegou no final do bolo, e no fundo da porcelana morna só os restinhos, fagulhas limpas e as raspa de chocolate a contemplar.
Cresceram e todas as noites os brinquedos a esperar. Mente brilhante, mente alternativa, mente fantástica, mente demais! Uma história que agora segue sozinha, sem os que apontam o dedo, torcem a boca, Apenas a saber a verdade, dos gritos e luta.
(Pronto! Que... que, que bonito! E essa coisinha vermelha no topo? Para que serve? Enfim, é só um detalhe, mas é por as vezes ignorar mos detalhes não vemos o topo... Hora de experimentar, o primeiro pedaço vai para...).
Douglas Tedesco