PAI
Um rio corre em minha mente
Uma correnteza de lembranças
Da minha vida presente nos verdes olhos de criança...
Lágrimas de uma carência... Nas águas desse passado
Via as margens distantes da existência
Pai! Para vencê-las só me tornando alado...
Quando ainda nem andava sei que te embriagavas
Caído em sarjetas escuras e a família insegura e calada...
Fui crescendo e não encontrava
Mãos a me afagar... Braços fortes não me abraçavam
Nem um olhar sereno teu quando me encontrava a chorar...
Pai! Queria sentar ao teu lado na praça
Soltar pipa e jogar bola no campo
Mas, preferias um copo de cachaça
À nossa companhia... Um desencanto...
Depois a família se rompeu, a velhice anoiteceu
Aos poucos tua distância me esqueceu
Passou a viver na escuridão das enxovias...
Minhas lembranças um rio de pranto
Pensei que podias ficar sóbrio por encanto
Mas, tu preferiste a bebida! Sorvias a “alcoolatria”...
Pai! Está escuro agora... Segura a minha mão
Tentarei te guiar com segurança
Mas, lembres de levar teu coração
Até a razão iluminar a vida de esperança...
Não mais nos separam o rio na vida humana
Sim o mar invisível das existências
Que na misericórdia a vida desumana
Resgata seus erros pelas experiências...
Pai! Assim o sentimento Divino nos irmana
O perdão sobreleva os erros no amor de outras vivências
Pai! No futuro vamos nos abraçar em novas existências...
Autor: André Pinheiro
Poesia publicada na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos - Vol. 103- Agosto de 2013