O MANGUE
I
Nascido das madeiras podres
Dum barraco no meio do mangue
Que apanhava muito do rio
Vim com esta cara de insolente
O barraco tinha dois olhos
As pernas finas atoladas
Nunca pegava aratus
Cansei de ficar esperando
II
Um dia mataram o Pedro
A lama o pegou na cintura
Quando a mulher trouxe a polícia
Morreu crivado de ciúmes
Aí nós - a molecada -
Transformamos Pedro em lenda
Ele virava caranguejo
Desvirava quando queria
III
Uma lenda cresceu comigo
A da moça de olhos verdes
Juro que ela me beijou
Quando cruzamos na pinguela
Um dia um carro metido
Levou a Penha para longe
Bonita demais prum barraco
Ninguém ligou pra minha lágrima
IV
Aliviei a dor com pongas
Nos caminhões da prefeitura
No lixo que matava o mangue
Nas revistas de putaria
Quando me tiraram de lá
Os peixes pediam socorro
Mas a mobília já dançava
Samba do carro de mudanças
V
Nem sei porquê virei doutor
E voltei para buscar Penha
Asfaltos com mil cadeados
Haviam roubado o mangue
Enviado por Jimii em 04/01/2007