À MINHA MÃE


Quando só, olhando ao vento a poeira,
Faz-me lembrar o que foi e o que restou
A minha mãe - que tanto foi companheira
E da minha alegria ou tristeza participou,
É para mim de tal e importante maneira
Não mero vulto; é presença que ali ficou.

Pobre sombra. Ficou cada vez mais calada,
E lá fora, frio e vento vão gelando o jardim.
Choro amargo silêncio, duma vida apagada,
Pela crueldade da certeza do inevitável fim.
E nesta alvura de lua alta, volta do passado
Seu triste vulto: caminha para perto de mim.

Deus! Se pudesse ter um bem que não faleça
Se coubesse restar ainda pouco do que se vai:
A figura de minha mãe, para que me aqueça,
Junto à amiga e cadenciada prosa de meu pai!
E antes que a noite se vá e a visão desapareça,
Volto a olhar a soturna sombra que já se esvai...

Oh! visão amiga, que ainda ao filho entristeça,
Por esta inútil espera. Uma lágrima nasce e cai.
Deixai meu Deus bondoso, que eu adormeça
Com as mãos de minha mãe em minha cabeça
E ouvindo... ouvindo, as histórias de meu pai...



À minha mãe Adalgiza, morta
em Moji Guaçu-SP aos 14 de julho de l998. (1909-1998)


 
Mauro Martins Santos
Enviado por Mauro Martins Santos em 01/05/2013
Reeditado em 16/06/2014
Código do texto: T4268202
Classificação de conteúdo: seguro