MONTARIOL, MEU ALVERNE
À semelhança do fraternal Monte Alverne,
Que sempre foi para Francisco a Luz perene,
Também o meu sonhar brilhou à luz do sol
Na encosta verdejante de Montariol.
Imponente edifício quase apalaçado
Em quatro andares muito bem estruturado
Emergindo todo ele em forte contraluz
À sacrossanta montanha do Bom Jesus.
Ali se recolhiam jovens vocações
Cujo horizonte aberto eram as Missões
Numa aventura de Mãe África primeira
Que entre todas as messes era pioneira.
Não sei se este Palácio foi mera ilusão
Só sei que ali cheguei de mala de cartão
Num dia em que saí das brumas da incerteza
Para restabelecer a minha natureza.
Subindo pela encosta amplas escadarias,
Torneadas aqui e além de cantarias,
Aborda-se finalmente a porta colegial
Que faz esquina à igreja, quase catedral.
Como eram belos naquele órgão os rituais,
Que preenchiam sempre os actos dominicais,
Aos quais eu dei um contributo predilecto
Sob a batuta do ilustre frei Norberto…
Um rés-do-chão com refeitórios e salões,
Primeiro andar com amplas salas de lições,
Outro andar para ensaios e úteis serenatas
E lá no alto belas vistas, camaratas.
No interior ficava o rinque dos devaneios,
Campo Grande e Pequeno para os recreios,
Com jogos de patins e bolas sempre à mão
Assim ia crescendo a alma em corpo são.
Frondosa quinta de vinhedos e milheirais,
Onde as labutas eram sempre joviais,
E no alto da montanha as sombras salutares
Davam tempero ao corpo com seus puros ares.
Foi assim, neste Alverne – escola de saudade –
Que construí aventura, numa fresca idade,
Semeando no meu chão os frutos recolhidos,
Belos tempos passados e por mim vividos!
Frassino Machado
In MONTE ALVERNE