SERÁ QUE ESTOU VELHO?
Escutando esta beleza de música, na voz maviosa de Carlos Galhardo, obra inexistente no tempo atual, atemporal me tornei, viajei e, desta viagem, trouxe ao presente, este poema que esta música me inspirou:
SERÁ QUE ESTOU VELHO?
Valho-me do velho, escaravelho sagrado,
onde gravado o meu passado encerra,
contos em contragotas postados,
mesmo sabendo que a memória não erra,
e os passados momentos pautados,
eis-me aqui no apronto do esquecimento,
revivendo cada passo que passei deveras...
Muita coisa no baú da vida encontro,
mesmo no desencontro mofado e amorfo,
Revivo o distante que a todo instante insisto,
onde revisito a aurora do meu viver...
Ah saudade infinda que resiste ainda,
que me faz lembrar e recolher momentos...
os amores que vivi, que afronta, vez sem conta,
aos discursos dominantes de hoje em dia,
decorrentes de uma sociedade fria...
Ponho os meus pés na estrada, ponho-me a caminhar,
sem cansar sob o sol e vento, somente assim, em mim,
secam as lágrimas com a força do barlavento...
Vou ali ser feliz, o tempo prediz,
no sortilégio confio, no assentamento assim postado:
"malgrado a morte que cada dia te consome, tu retornarás,
te tornarás mais forte, e a sorte te visitará deveras;
se a "torre derrubada" e a "destruição" esculpidas em teu viver,
hás de rediviver pelo diálogo, ó comparsa desta lida".
É o prodígio do renascimento, que a todo momento nos acomete a todos nós...
Um processo surreal este momento redentor onde,
o retorno prometido ritualiza, e concretiza a esperança,
a liberdade, a poesia e o amor me esperam,
apanágios de um longo viver...
Sempre procuro ser inaugural como a alvorada,
pleno, completo e decerto, não me descato de nada,
não sou mais um ente em construção,
Desperto, neste concerto de idéias, me preservo,
me descubro feliz onde me espelho,
porque neste concelho de sábios,
somente velho pode entrar,
e lá entrei, é lá que devo ficar...
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