Águas de Março
Águas De Março.
Nos meus tempos de menino,
Andando pelo sertão
Eu vi fome, vi miséria,
E açude virar torrão.
Onde antes tinha água
Agora é terra rachada;
Fome e seca matando gente
E quem pode, não faz nada.
A criação se definha,
Quem aguenta é retirante,
Vi morte na retirada,
No sol quente e escaldante.
Os bandos de arribação,
Asa branca, zabelê,
Bate asas pra outras bandas
Em busca do que comer.
E quem não pode voar,
Sem jeito, o jeito é ficar,
Na penitência da fome
Esperando a chuva chegar.
Joga a semente no pó da terra,
A esperança não morreu;
Chegam as águas de Março
A penitência valeu.