BARROTERAPIA
Vamos nessa, meu irmão,
Entre e se transfigure
Aqui no Bar do Barrão.
Mas deixe na porta o status
Vaidades e preconceitos
Valores pequeno-burgueses
Pois cá nada conta não.
Mas se você estiver grilado
Pode entrar com seus problemas
Sejam eles de moral,
Dor de cotovelo, dinheiro,
Escrotice no trabalho
Ou angústia existencial
Garanto que em três minutos
Tudo se volatiliza
E você sai outro homem
Dessa terapia grupal.
Pode até entrar com o Marx
Marcuse, Gramsci ou Althusser
Que na evolução do papo
Seu intelecto polemiza
Se bom mesmo é Zico ou Pelé.
A dívida externa do País,
Os pacotes do Delfim,
Não esquenta com isso não
Pior está o Bahia
Esquece que o Maracajá
Ainda não arrumou a grana
Da nova contratação?
Mesmo em caso de doença
Tome a sua brahma tranqüilo
Pois Edinho e João da Farmácia
Não deixam de dar plantão.
Se você for cristão novo
Não espere muita atenção
Mas não estranhe se o freguês
Transpuser, pra se servir,
A barreira do balcão
Pois Nelson está lá por dentro
E ninguém sabe do Barrão
Talvez esteja de pileque
De camisa, peito aberto,
Chorando firme no prego
Ouvindo o LP do Roberto.
Se o problema for dinheiro,
Tudo vai ficar joinha
Jaime Bahia está chegando
Faça logo sua fezinha.
Os grupos se animaram
Estão saindo as novidades,
Quem está dando, quem não presta,
Os cornélios da cidade.
Quem foi tirada de casa,
Quem está passando o calote,
Enfim tudo descortina
Até que o futebol retoma
A discussão de rotina.
Agora é a vez das piadas
A confusão é geral
Chega o Santo Bicudo
Toma sua oitava lapada
Com a cara mais natural.
Não preciso dizer mais nada
Está feita a terapia
Se você quiser viver
O sincretismo cultural
E fugir do dia a dia
Curtivida, curtisom e curtição
Vamos logo, meu irmão,
Entre e se transfigure
Aqui no Bar do Barrão.
_______
Nota: o Bar do Barrão existiu na cidade de Cruz das Almas, Bahia, tendo sido por muito tempo o ponto de encontro de uma fauna bastante diversificada, onde se incluíam operários, comerciantes, desempregados, estudantes e intelectuais.
Vamos nessa, meu irmão,
Entre e se transfigure
Aqui no Bar do Barrão.
Mas deixe na porta o status
Vaidades e preconceitos
Valores pequeno-burgueses
Pois cá nada conta não.
Mas se você estiver grilado
Pode entrar com seus problemas
Sejam eles de moral,
Dor de cotovelo, dinheiro,
Escrotice no trabalho
Ou angústia existencial
Garanto que em três minutos
Tudo se volatiliza
E você sai outro homem
Dessa terapia grupal.
Pode até entrar com o Marx
Marcuse, Gramsci ou Althusser
Que na evolução do papo
Seu intelecto polemiza
Se bom mesmo é Zico ou Pelé.
A dívida externa do País,
Os pacotes do Delfim,
Não esquenta com isso não
Pior está o Bahia
Esquece que o Maracajá
Ainda não arrumou a grana
Da nova contratação?
Mesmo em caso de doença
Tome a sua brahma tranqüilo
Pois Edinho e João da Farmácia
Não deixam de dar plantão.
Se você for cristão novo
Não espere muita atenção
Mas não estranhe se o freguês
Transpuser, pra se servir,
A barreira do balcão
Pois Nelson está lá por dentro
E ninguém sabe do Barrão
Talvez esteja de pileque
De camisa, peito aberto,
Chorando firme no prego
Ouvindo o LP do Roberto.
Se o problema for dinheiro,
Tudo vai ficar joinha
Jaime Bahia está chegando
Faça logo sua fezinha.
Os grupos se animaram
Estão saindo as novidades,
Quem está dando, quem não presta,
Os cornélios da cidade.
Quem foi tirada de casa,
Quem está passando o calote,
Enfim tudo descortina
Até que o futebol retoma
A discussão de rotina.
Agora é a vez das piadas
A confusão é geral
Chega o Santo Bicudo
Toma sua oitava lapada
Com a cara mais natural.
Não preciso dizer mais nada
Está feita a terapia
Se você quiser viver
O sincretismo cultural
E fugir do dia a dia
Curtivida, curtisom e curtição
Vamos logo, meu irmão,
Entre e se transfigure
Aqui no Bar do Barrão.
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Nota: o Bar do Barrão existiu na cidade de Cruz das Almas, Bahia, tendo sido por muito tempo o ponto de encontro de uma fauna bastante diversificada, onde se incluíam operários, comerciantes, desempregados, estudantes e intelectuais.