ETERNAS LEMBRANÇAS
Nas madrugadas de minha insônia
O tic-tac do relógio na parede
Parece o tropel de cavaleiro chegando lá na porteira,
Se solto as redes da imaginação ouço até a respiração ofegante do cavalo
E, lá no piquete, o relincho dos outros animais dando as boas vindas ao companheiro cansado!
De minha parte, quase pulo da cama para receber, com certeza,
Meu pai que está chegando da invernada ou,
Talvez, meu avô que foi lá no Areado
E está chegando com os bolsos cheios de bala doce e outras novidades!
Por alguns instantes perco a noção de espaço:
Estamos todos lá na Fazenda Barra Mansa;
Ouço minha mãe na cozinha passando um café quentinho e a lembrança
De que nessas ocasiões sempre saía uns bolinhos de chuva
Ou deliciosos bolos de polvilho, enche-me a boca de água;
As vacas e os bezerrinhos berram lá no mangueiro;
Os cachorros latem alegres!
De repente, tudo silencia, só o monótono tic-tac do relógio de parede!
Sinto um nó na garganta; no meu peito meu coração sangra de saudades;
Uma lágrima quente desliza até minha boca, salgada como suor de cavalo!
Ainda como criança, peço a Deus que haja bons cavalos
Lá onde meu pai e meu avô estiverem, nos campos desta Imensidão!
Um automóvel passa veloz lá na rua, atropelando as minhas lembranças!
Ainda tendo ouvir o uivo de um lobo guará...
Só ouço o apito do guarda patrulhando a rua,
E a dor nas minhas pernas diz impiedosamente
Que há muito tempo já não sou mais criança!