Conversando a gente se entende
Cresci, não muito, vendo
Minha mãe falar com
As plantas, com os peixes no aquário
Com o arroz na panela.
Ela é doida? — perguntava eu
Será que eles entendem?
Cadê as orelhas das plantas,
Dos peixes, do arroz?
Minha mãe era louca?
Não, era e ainda é sábia
Conversando a gente se entende
Comecei a conversar também.
Conversava com os insetos no jardim
De dia tentava conversar
Com os tatus-bola, tímidos e enrolados
De noite com meus luminosos amigos vaga-lumes.
Foi muito bom, foi ótimo, mas
Virei gente grande, não muito,
Achei que não acreditava mais
No que acreditava quando falava com eles.
Hoje, tentativa de poeta, converso com o papel,
Com os passarinhos, com a florzinha amarela
Na rachadura da calçada, com o céu azul,
Com as nuvens escuras, com a chuva, comigo mesmo.