( eu em diversos momentos da vida)
MEMORIAL DE SAUDADE
Fui menina de olhar sereno e desbotado,
franjas curtas e retas... vestido rodado
de bolinhas ou estampado
a brincar com o vento
de manhãs primaveris...
Passos seguros e sutis
a colher margaridas com mãos febris...
inquietudes escondiam a alma
que voavam em poesias e contos de fadas...
Feliz aos pés de meu pai, desfraldada,
esperava a magia do "era uma vez..." e, admirada
viajava em mundos encantados.
Tão pequena e já amava Olavo Bilac
e suas “Velhas árvores”!... o grilo falante de fraque...
“Ou isto ou aquilo” era o sublime destaque
nos versos de Cecília Meireles...
Menina era e entrei na onda da Inconfidência;
tive meus heróis em evidência...
Tiradentes, minha cívica reminiscência
dos bancos toscos da escola...
De lá trouxe D. Pedro II, corajoso e imortalizado
Em “Independência ou morte”... alto brado
por Pedro Américo pintado
na tela de minha memória...
Menina era e encarnei D. baratinha e sua saia de filó,
fiz travessuras no quintal de minha avó,
acreditei em Papai Noel de trenó
e me enterneci diante de presépios...
Cresci... e Rosângela, minha boneca, abandonei;
romances em fotonovelas às escondidas eternizei...
então meu primeiro poema de amor criei
para dormir em algum escaninho...
Ainda adolescente conheci o amor,
o primeiro beijo, seu encanto e fulgor...
Não demorou também para sentir a dor
da saudade e da espera...
José de Alencar supriu meus desenganos
com seus melosos romances urbanos...
Veio o romantismo e cobriu com seus panos
minha identidade realista...
Já não pensava... guiava-me somente o desejo...
diante de novo amor, esqueci o pejo,
entreguei a inocência em algum ensejo
e algum tempo depois estava no altar...
Conheci então a felicidade
que jurava até então ser uma eternidade...
Veio a rotina e a verdade
sorriu em meus olhos tristes...
Em meus olhos rasos d'água
vejo uma aguardente que deságua
levando um amor e trazendo mágoas
mudas de espanto e despedidas...
Agora, aqui estou triste e ausente,
no meio de uma névoa dormente
de lembrança e saudade somente
com medo de esquecer...
A poesia é uma areia que me sepulta
ou me ressuscita... teu verso me exulta
e ao mesmo tempo me insulta
como a força do vento e do abandono...
Em poemas minha história pode até terminar!...
Que m’importa?!!! Vivo desse versar,
centro mudo de meu planeta ou meu mar
solitário e gelado...
( OBS: o termo despedida e abandono aqui não é algo concretizado, é apenas uma profetização diante de alguns acontecimentos: o alccolismo de meu esposo que, aos poucos vai traçando seus caminhos e os meus...)
MEMORIAL DE SAUDADE
Fui menina de olhar sereno e desbotado,
franjas curtas e retas... vestido rodado
de bolinhas ou estampado
a brincar com o vento
de manhãs primaveris...
Passos seguros e sutis
a colher margaridas com mãos febris...
inquietudes escondiam a alma
que voavam em poesias e contos de fadas...
Feliz aos pés de meu pai, desfraldada,
esperava a magia do "era uma vez..." e, admirada
viajava em mundos encantados.
Tão pequena e já amava Olavo Bilac
e suas “Velhas árvores”!... o grilo falante de fraque...
“Ou isto ou aquilo” era o sublime destaque
nos versos de Cecília Meireles...
Menina era e entrei na onda da Inconfidência;
tive meus heróis em evidência...
Tiradentes, minha cívica reminiscência
dos bancos toscos da escola...
De lá trouxe D. Pedro II, corajoso e imortalizado
Em “Independência ou morte”... alto brado
por Pedro Américo pintado
na tela de minha memória...
Menina era e encarnei D. baratinha e sua saia de filó,
fiz travessuras no quintal de minha avó,
acreditei em Papai Noel de trenó
e me enterneci diante de presépios...
Cresci... e Rosângela, minha boneca, abandonei;
romances em fotonovelas às escondidas eternizei...
então meu primeiro poema de amor criei
para dormir em algum escaninho...
Ainda adolescente conheci o amor,
o primeiro beijo, seu encanto e fulgor...
Não demorou também para sentir a dor
da saudade e da espera...
José de Alencar supriu meus desenganos
com seus melosos romances urbanos...
Veio o romantismo e cobriu com seus panos
minha identidade realista...
Já não pensava... guiava-me somente o desejo...
diante de novo amor, esqueci o pejo,
entreguei a inocência em algum ensejo
e algum tempo depois estava no altar...
Conheci então a felicidade
que jurava até então ser uma eternidade...
Veio a rotina e a verdade
sorriu em meus olhos tristes...
Em meus olhos rasos d'água
vejo uma aguardente que deságua
levando um amor e trazendo mágoas
mudas de espanto e despedidas...
Agora, aqui estou triste e ausente,
no meio de uma névoa dormente
de lembrança e saudade somente
com medo de esquecer...
A poesia é uma areia que me sepulta
ou me ressuscita... teu verso me exulta
e ao mesmo tempo me insulta
como a força do vento e do abandono...
Em poemas minha história pode até terminar!...
Que m’importa?!!! Vivo desse versar,
centro mudo de meu planeta ou meu mar
solitário e gelado...
( OBS: o termo despedida e abandono aqui não é algo concretizado, é apenas uma profetização diante de alguns acontecimentos: o alccolismo de meu esposo que, aos poucos vai traçando seus caminhos e os meus...)