PERFIL DE DESENGANOS

Para aquela inesquecivel,

última carícia que se foi,

tenho mãos parcas ,

tenho nadas com que tocar-te,

tenho somente um fraco pulsar,

para suster o peso

da tua essência consumida.

Ficando nessa tremura antiga,

que remonta a feridas

e ferinas negações.

Se pudesses olhar-me agora,

pouco enxergarias como

me vias ou que, de tal modo restou,

daquele doce crepitar de altas

aquiescências incandescidas.

Nem poderias sentir naquele exato

antes: o morno de uma ventania finda,

não percebida, que alteava nossas arestas

e costumava sublevar-te

a uma qualquer vontade

de não te saber,

o que serias.

Tão pouco intactos deixamo-nos ficar,

naquilo do que perdemos

e até do pouco que retemos,

que corta e magoa, faz sofrer,

contorce-se ante o insustentável.

Ficando eu então assim:

pondo reparos nos vãos da mente,

longe do retempero do coração,

mas sem o ardil do nosso

perfil de desenganos.

Desejo agora o impossível

de apenas, retornar ao início

de quando era menino.

Sem tempo pra ser triste

e muito menos sem ter

que carregar

esse ar de punitiva

interrogação.

Que hoje ostento, sem

nenhum breve rito,

de todos os disfarces !

DanielFCosta
Enviado por DanielFCosta em 12/11/2012
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